20131202

Chamas


Aqueles teus bicos apontando
em relevo
sob o pano único do verde de seu vestido...
Como o esconder escancarado da
perdição das vontades.
As curvas do leve tecido
objetificando o insinuar.
Toda tal magia transportada
em seu flutuar
faz de mim um
tolo.

E ela sabe que,
não importasse o momento,
aquela pele sobre pele dilacerava
meu bom-senso
em sua sensual leveza
de pisar em nuvens.

Não importa a discussão,
meu atraso crônico, a incompatibilidade de humores matinais ou a priorização confusa,
seus seios
enrijecidos e delineados
no verde vestido que decifra
a ausência de qualquer roupa abaixo,
torna-me insano e fazia
postergar qualquer desculpa que me impedisse de estar realmente
grudado
na sua pele.

Em meu querer incessante,
planejando unirmos pele e
desviando de quaisquer
desculpas, argumentos, ilusões e realidades
que poderiam tangenciar
o desejo.

Mas, antes de tudo, há
o clima que mata o clima,
a imagem de seu rosto ao rubro
e a ferocidade das palavras,
contradizendo
a doçura dos movimentos na forma como
tudo que toca
pega
fogo.

Louco, sabia que me perderia
quando te encontrei;
e que de todas as direções o sentido
é você.
Tira-me de mim ao ver teu corpo -
flamejante
- bailar nos caminhos da vida.

20131113

Ao ar

à Macabéa.

N'aquele atropelamento
continha todo o impacto
com que eu poderia começar
um texto.

Foi uma batida seca
e fria,
com aquele som que encerra-se
a si mesmo.
Som, este, que chamaria toda a
atenção do mundo
não fossem os ônibus passando,
um milhão de pessoas aos gritos buscando entender alguma coisa da vida.
Mas a vida estava justamente
ali.
Estava
E ninguém reparou.

A tristeza e a indignação seriam tão grandes
se não fosse um acontecimento em milhão.
Pois a dor incomoda até o costume.
E naquilo foi-se
uma estrela com busca de um céu
que a aceitasse.
Foi, estrela, ao céu
(ou aonde queira, que
pelo menos agora no fim do mundo Deus queira, ou quem for, tenha escolhido seu destino).
Foi-se,
e ninguém notou.
Não houve luto, considerações ou emoções.

E toda aquela tristeza,
alvo do carro-estrela,
continua por aí
pairando.
Seguindo seu rumo,
entre pessoas, carros, ônibus,
estrelas, chãos,
coisas e sentidos.

Aquela tristeza continua
ali.
Ela é vista.
Está presente aonde não se quer.
Evitada e desviada.
Mas não assumida.
E n'outro encontro bate em alguém,
que não resiste a toda
esta
negação do que se é.
e torna estrela.

20131104

Seja dura, vida.

cara, o que é esta vida magra senão uma punheta de pau mole?
na qual vc pode até gozar, mas não vai ser tudo aquilo que seria se estivesse de pau duro... 
e passa tão rápido que te faz pensar se valeu mesmo a pena tanto tempo ali se esforçando...
no fim das contas vc tá resignado e esfolado... 

20131101

The long journey...

I'm so bored today... I need... something. Something else. Something new.

When you say something like that, people usually talk about leaving, travels and stuff. But it's not that, here.

If the world bores me, I don't think the solution can be "more world"...




Continua: http://english.bouletcorp.com/2013/08/02/the-long-journey/


20131027

Quadrinhos


Descalço

Os sapatos vermelhos largados
trazem de volta a dona
à memória.
Entre a parede e a porta de saída,
como se estivesse ficado aqui e negado
a fuga repentina que foi a saída;
como se velando meu deixar-se estar estático esperando;
como se negando o instante em que todos os motivos eram
poucos para parar
respirar
e tomar consciência de que o destino era justamente
a origem.
Como se...
deixados. Largados, não.
Deixados
para trazer à memória e ao poema.
Sapatos vermelhos de pés que,
timidamente envergonhados,
fico à caça de suas pegadas.
Vermelhos não sei de quê,
se coração ou sangue
vertido pelo aperto que odeia nesses sapatos;
vertido, também, por mim naquele coração.
Deixados
como um aviso da volta inesperada
e pensada
e milimetricamente desenhada
e adivinhada
em sonho.
Que será.
Será que voltaria escondida entreolhando no caminho somente para buscá-los?
Será que, quando chegar,
em busca dos sapatos vermelhos,
desistiria
se me visse,
semelhante aos sapatos,
na mesma posição em que deixou,
esperando ser pisado?

20131024

Madrugada

Em hora:
Coração. Dor. Fumaça.
Tudo aquilo que podia deixar de acreditar, está.
Tanto o sino,
ou o alarme.
Dentro da cabeça um só fio se desenrola na navalha em busca de...
quê?
Quê
sentimento de pensar-se cheio. Antes pleno.
Mas são passos obtusos o delinear da vida,
circunscrita à escrita de si, daquilo que se vê.
Falso ou
tarde?

Café. Xilocaína. Nascimento. Apneia. Pulsão. Brisa.

E todos os projetos de vida largados no chão do quarto, entre roupas e textos e sonhos e sexos...
Donde encontrar aquilo que explícito?
Mal se espera, queda. E desperta.
São horas de viagens em sonhos interrompidos,
do que não se deixou nascer.
Tudo tanto que: não.

Disto,
desenrola-se o dia, a noite, o mês e aquilo que não pode ser dito.
Nisto,
o universo em sua pequenez de meus pés, de meus pulos, vou e volto.
O tempo como espaço parado a 5 minutos por respiro.
Intocável.
Não me percebo, caio.
Agarro a corda, mas deixo.
O não-estar domina...
Acordo.