20080820

Homem de suor e honra

Enxada ao alto - Enxada no chão - Terra no monte.
Enxada ao alto - Enxada no chão - Terra no monte.
Enxada ao alto - Enxada no chão - Terra no monte.

Era a honra. Seu trabalho era sua honra. João Sem Nome preparava a terra para mais um plantio. Com sua enxada, seguia tirando a sobra de terra. Sua força; meio de alimentar a família. Como seu pai, servia uma rica família da região. A maior fazenda da região. Seus bens; a casa de herança, meio hectare de terra, duas cabeças de bois magros, uma vaca leiteira seca, três galinhas e a tradição da fome. Tradição que não há como fugir. Sabe o que já passou e não quer passar este tipo de lembranças para seus filhos. A construção de sua honra se dá em cumprir isto.

Pá para trás - Pá na terra - Terra no carrinho.
Pá para trás - Pá na terra - Terra no carrinho.
Pá para trás - Pá na terra - Terra no carrinho.

Seu esforço. Dedica a vida à sua honra. A não fazer dele o futuro de seus filhos. Não quisera estar ali, mas está. Não quisera muito na vida. Aceitava o que viesse para querer algo realmente grande. Algo que valesse toda e qualquer pena. Algo que valesse sua vida, seu trabalho, sua honra. E ali construía sua honra. Pois não queria continuar ali, em seus filhos. Seu suor, o suor era o maior sinal de sua honra. E seguia firme. Seguia.

Pexeira pro alto - Pexeira na palma - Palma pro lado
Pexeira pro alto - Pexeira na palma - Palma pro lado
Pexeira pro alto - Pexeira na palma - Palma pro lado

Quando vez ou outra seu suor cai na pexeira ele para. Observa o reluzir do sol no corte da pexeira enferrujada e na gota. Mexe a pexeira para os lados afim de brilhar todo o seu rosto. Aquela luz questionava algo nele. Aquele brilho na gota mostrava que havia algo maior que a vida ali na terra. Questionava sua vida. Eram seus 27 segundos de filosofia existencialista. Depois seguia o corte.

A noite sentava sobre ele, e ele a observá-la.

A cabeça na vida. A fome na barriga. A família com fome. A família com fome. Sua honra perdida. Ele era sua honra. Tudo aquilo por sua honra. E dessa honra, nada sobraria. Não mais havia honra. Os filhos herdariam a casa, o trabalho, a fome, a ininterrupta tradição. E a honra?