20140325

Paralelos

Com café e meus palheiros apostos,
inicia-se a jornada para alguma
coisa que deva escrever,
ou no mínimo fazer ler.
Sempre recordo de almas próximas
com produção desconhecida e distante
de pessoas que escrevem tudo aquilo
que eu sei que eu queria dizer.
Das almas paralelas, levo lembrança,
na pena, pedaços de suas palavras.
Sei que em ideias
e estrofes,
somos todos perdidos,
buscando poesia.


20140318

Um dia quente

Dia vulgarmente quente.
A vaporosidade vivifica os valores físicos.
Vultos fumaçosos do calor. Do vapor.
Domina-nos, o abafo. O fogo.
A viril ferocidade. Ela e eu,
na fugaz vacina de nós mesmos.
Vadios. Fiéis. Vivos.

Não a cidade, mais quente:
a mulher.
E ela responsável pelo meu suor.
Pela minha libidinosa fluência nela. E
enlaçados, osculávamos juras.
Encorpados, voluptuosamente aninhados
no corpo alheio.
Forçamos a situação, que nos força a perder a cabeça.
Facilmente encontramo-nos em posição de adoração.
Naquele momento, era ela o meu motivo.
Meu sentido, que é minha vida.
Meu tesão de viver.
E de ser. E de estar ali com ela.

E tudo isso concentra-se na pessoa dela.
Profunda admiração e vivacidade.
Orgulho, gosto e alegria.
Prazer e vontade.
Ela.
Navegar-me e perder. Nela.
É ela meu porto.
Meu furor. Meu maior êxtase.
Êxtase em seu corpo.
Seu prazer.
Vapor.
Fogo.
Corpos.
Ela.
Paixão.
Calor e mais fogo.
A mulher, o prazer e a vida.

Texto encontrado de Set/2007

Girando em roda

Há um rato se contorcendo
em meu quarto.
A morte logo vem visitá-lo
e levá-lo.
O matador fui eu mesmo e,
ainda não sei o motivo,
me sinto triste por isto.
Tento limpar a mente e a
culpa
lembrando todo o mal que poderia causar...
Mas nem por isso cometo homicídios
àqueles potencialmente ou verdadeiramente
maus...
Podia tê-lo deixado brincando,
correndo aqui e ali.
E quem sabe alimentá-lo?!
Mas a vassourada certeira
foi a brusca morte da esperança.

Cá estou com um rato,
em minhas mãos assassinas,
morto
e não sei quê fazer.

Talvez tivesse família, sonho, desilusões,
ou até mesmo este tipo de
alucinação.
Ao menos, fome tinha,
mas perdeu.

Agora eu,
correndo prá lá e prá cá,
tentando escalar paredes,
entrar em pequenos buracos,
matar aquilo que me mata,
devo esquecer o rato e
continuar girando
a rodinha da vida.

Clima

Não esperava que um vento,
vindo de Norte como aquele,
pudesse balançar as telhas tanto
como o fez em minha cabeça.

Era só memória,
quiçá inventada,
nas ilusões de teus braços.

Como podem ser loucos
os amantes
que em alguns momentos
sonham tangenciar a tão inócua
felicidade.

Deixou um assovio que,
junto ao arrepio,
transformou tristeza em apatia.