20141031

Fim de ano

Olhei pro calendário,
que mais parece planilha de Excel -
cheia de números e contas e letras -
de quando o Excel nem existia,
mas mesmo assim...
Era N O  V E M  B R O!
E, na mesma hora, me desce um arrepio pela espinha!

Deve ser essa a verdadeira origem do Halloween...
Aquele susto no início de novembro que você
percebe que não fez nada do que queria ter feito,
e que sua pilha de projetos para o futuro
continua
a crescer.

E mais:
Lembra-me dezembro!
E tudo aquilo de encontros, reencontros
forçados,
obrigação de eventos, festas,
sentimento de completude
só que incompleta,
sentimento de reinício adiantado...

Na verdade,
tudo isto trás coisas imprecisas
que não temos certeza sentir
em precisas datas no calendário.
Coisas que não preciso ser forçado
a engolir ano abaixo.

cicatrizes

de tantas marcas da vida,
não excluo a experiência
dos andares, dos caminhos,
das coisas todas que se
seguem.

que seria de meu aprendizado
sem tantos pontos, sem
os buracos costurados
das pegadas desta tanta
tortuosa trilha?

20141028

Auto-oferenda


a vida,
este caminho tortuoso
de difícil prospecção,
se torna muito mais 
tragável
quando aceitamos que, 
a partir de nossos padrões
morais de normalidade,
há gente

esquizofrenétisquisita.

20141027

No[i]te

Onze horas da noite e
na vista das várias janelas
não há para onde olhar.

Tanto o banco
quanto o canto
foram-se.

E a necessidade
é andar.

20141008

ser-tão velho

aos meus pais e avós, que provaram ser reais as palavras
"o sertanejo antes de tudo é um forte".



procuro a vereda estreita
rasgada pelos pés de meus
antecessores,
progenitores.
não somos mais os mesmos,
ainda que Renato insista do contrário.

daquele velho sertanejo
de botas, calças camufladas
e chapéu de couro,
me resta o sangue,
o sobrenome
e a saudade.

foi-se o pó e o areião
para algum lugar do passado;
o gado magro
e a palma cortada
ficaram por lá,
n'algum recanto
da Malhada do Galdino,
de Sítio Novo,
ou de qualquer lugar que a carroça leve.

da poética do sertanejo que -
sujeito feito coco,
duro e seco por fora,
mas q'numa pequena ranhura
hidrata em docilidade -
ficou-me uma poética adotiva,
renovada, mas
buscando herança.

mas lá no fundo,
por trás da casa velha,
escondido depois do umbuzeiro,
da cisterna, do açude,
do terreno e do morro,
do sangrador,
da Pedra de São Pedro,
do cruzeiro,
lá por de trás do mundo,
daquele mundo que
eu sonhara ser o universo,
tem um mar de lembranças,
quiçá de coisas que nem vivi,
de realidades que me tocaram
em outras pessoas,
em outros tempos,
através da linhagem
de sangue,
esta longínqua senda de vida.