20141008

ser-tão velho

aos meus pais e avós, que provaram ser reais as palavras
"o sertanejo antes de tudo é um forte".



procuro a vereda estreita
rasgada pelos pés de meus
antecessores,
progenitores.
não somos mais os mesmos,
ainda que Renato insista do contrário.

daquele velho sertanejo
de botas, calças camufladas
e chapéu de couro,
me resta o sangue,
o sobrenome
e a saudade.

foi-se o pó e o areião
para algum lugar do passado;
o gado magro
e a palma cortada
ficaram por lá,
n'algum recanto
da Malhada do Galdino,
de Sítio Novo,
ou de qualquer lugar que a carroça leve.

da poética do sertanejo que -
sujeito feito coco,
duro e seco por fora,
mas q'numa pequena ranhura
hidrata em docilidade -
ficou-me uma poética adotiva,
renovada, mas
buscando herança.

mas lá no fundo,
por trás da casa velha,
escondido depois do umbuzeiro,
da cisterna, do açude,
do terreno e do morro,
do sangrador,
da Pedra de São Pedro,
do cruzeiro,
lá por de trás do mundo,
daquele mundo que
eu sonhara ser o universo,
tem um mar de lembranças,
quiçá de coisas que nem vivi,
de realidades que me tocaram
em outras pessoas,
em outros tempos,
através da linhagem
de sangue,
esta longínqua senda de vida.


Um comentário:

  1. "O sertão é do tamanho do mundo. Sertão é dentro da gente."

    Que lindo, Fernando!

    ResponderExcluir