20131113

Ao ar

à Macabéa.

N'aquele atropelamento
continha todo o impacto
com que eu poderia começar
um texto.

Foi uma batida seca
e fria,
com aquele som que encerra-se
a si mesmo.
Som, este, que chamaria toda a
atenção do mundo
não fossem os ônibus passando,
um milhão de pessoas aos gritos buscando entender alguma coisa da vida.
Mas a vida estava justamente
ali.
Estava
E ninguém reparou.

A tristeza e a indignação seriam tão grandes
se não fosse um acontecimento em milhão.
Pois a dor incomoda até o costume.
E naquilo foi-se
uma estrela com busca de um céu
que a aceitasse.
Foi, estrela, ao céu
(ou aonde queira, que
pelo menos agora no fim do mundo Deus queira, ou quem for, tenha escolhido seu destino).
Foi-se,
e ninguém notou.
Não houve luto, considerações ou emoções.

E toda aquela tristeza,
alvo do carro-estrela,
continua por aí
pairando.
Seguindo seu rumo,
entre pessoas, carros, ônibus,
estrelas, chãos,
coisas e sentidos.

Aquela tristeza continua
ali.
Ela é vista.
Está presente aonde não se quer.
Evitada e desviada.
Mas não assumida.
E n'outro encontro bate em alguém,
que não resiste a toda
esta
negação do que se é.
e torna estrela.

Um comentário:

  1. Opa, não sabia que o blog tinha voltado à ativa! \o/ E em grande estilo, hein =)

    Que lindeza de post!
    Bateu uma vontade sem tamanho de revisitar A Hora da Estrela na estante agora.

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