20131027

Descalço

Os sapatos vermelhos largados
trazem de volta a dona
à memória.
Entre a parede e a porta de saída,
como se estivesse ficado aqui e negado
a fuga repentina que foi a saída;
como se velando meu deixar-se estar estático esperando;
como se negando o instante em que todos os motivos eram
poucos para parar
respirar
e tomar consciência de que o destino era justamente
a origem.
Como se...
deixados. Largados, não.
Deixados
para trazer à memória e ao poema.
Sapatos vermelhos de pés que,
timidamente envergonhados,
fico à caça de suas pegadas.
Vermelhos não sei de quê,
se coração ou sangue
vertido pelo aperto que odeia nesses sapatos;
vertido, também, por mim naquele coração.
Deixados
como um aviso da volta inesperada
e pensada
e milimetricamente desenhada
e adivinhada
em sonho.
Que será.
Será que voltaria escondida entreolhando no caminho somente para buscá-los?
Será que, quando chegar,
em busca dos sapatos vermelhos,
desistiria
se me visse,
semelhante aos sapatos,
na mesma posição em que deixou,
esperando ser pisado?

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