20131027

Quadrinhos


Descalço

Os sapatos vermelhos largados
trazem de volta a dona
à memória.
Entre a parede e a porta de saída,
como se estivesse ficado aqui e negado
a fuga repentina que foi a saída;
como se velando meu deixar-se estar estático esperando;
como se negando o instante em que todos os motivos eram
poucos para parar
respirar
e tomar consciência de que o destino era justamente
a origem.
Como se...
deixados. Largados, não.
Deixados
para trazer à memória e ao poema.
Sapatos vermelhos de pés que,
timidamente envergonhados,
fico à caça de suas pegadas.
Vermelhos não sei de quê,
se coração ou sangue
vertido pelo aperto que odeia nesses sapatos;
vertido, também, por mim naquele coração.
Deixados
como um aviso da volta inesperada
e pensada
e milimetricamente desenhada
e adivinhada
em sonho.
Que será.
Será que voltaria escondida entreolhando no caminho somente para buscá-los?
Será que, quando chegar,
em busca dos sapatos vermelhos,
desistiria
se me visse,
semelhante aos sapatos,
na mesma posição em que deixou,
esperando ser pisado?

20131024

Madrugada

Em hora:
Coração. Dor. Fumaça.
Tudo aquilo que podia deixar de acreditar, está.
Tanto o sino,
ou o alarme.
Dentro da cabeça um só fio se desenrola na navalha em busca de...
quê?
Quê
sentimento de pensar-se cheio. Antes pleno.
Mas são passos obtusos o delinear da vida,
circunscrita à escrita de si, daquilo que se vê.
Falso ou
tarde?

Café. Xilocaína. Nascimento. Apneia. Pulsão. Brisa.

E todos os projetos de vida largados no chão do quarto, entre roupas e textos e sonhos e sexos...
Donde encontrar aquilo que explícito?
Mal se espera, queda. E desperta.
São horas de viagens em sonhos interrompidos,
do que não se deixou nascer.
Tudo tanto que: não.

Disto,
desenrola-se o dia, a noite, o mês e aquilo que não pode ser dito.
Nisto,
o universo em sua pequenez de meus pés, de meus pulos, vou e volto.
O tempo como espaço parado a 5 minutos por respiro.
Intocável.
Não me percebo, caio.
Agarro a corda, mas deixo.
O não-estar domina...
Acordo.