20180607

Sobre o mito do vazio


O vazio pode ser a ausência que marca a presença.
Como as marcas no corpo que gritam o vazio. A sombra que existe na incidência da luz, incide na escuridão.

A casa cheia de vestígios de 4 dias e 4 noites de viagem. Viajando em alto-mar, navegando ao léu, mas não perdidos. Só pode estar perdido quem tem porto que o espera. Não era o caso. Não havia destino. Era acaso. Era o caso da coincidência do encaixe encapotado em cobertas e encantado em conversas. Riso solto, suor na pele, dentes na carne. Óculos nos olhos, palavras na boca, navegava em suas águas. Palavras de outros momentos, enquanto títeres amarrados, tal qual queria amarrá-la. Tal qual queria ser corda para. E, como corda, suspendê-la. E suspensa mantê-la.

E seria o mundo, talvez, todos os vazios que deixamos por preencher enquanto nos ocupamos com a produção da rotina. O vazio entre os pés e o chão. O vazio entre a comédia e a gargalhada alta. Os vazios que sobram, impossíveis de preencher, entre os corpos colados; ou mesmo os vazios do corpo que buscamos preencher até aquele momento do pequeno vazio da vida. Mas também seria o mundo o vazio na cama, no quarto, na casa, no cão, na carne. O vazio de águas cortadas por navios viajando. Mas navios que navegam calmamente, sem rumo nem pressa, feito continentes em sua longa história de movimentação. Como se o tempo não fosse acabar. Como se o domingo não fosse chegar.

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